Enquadramento
Amadora, o bairro do Alto da Cova da Moura
O concelho da Amadora encontra-se situado no distrito de Lisboa, fazendo fronteira com o concelho de Lisboa, a capital do País, partilhando ligações e redes de transportes. A Amadora é uma das maiores cidades de Portugal ao nível populacional (apesar da área geográfica ser de apenas 23,8 km2, tem sensivelmente 175.558 habitantes “dados Censo de 2011”). Face à sua especificidade, heterogeneidade e uma forte matriz multicultural ao nível da população, enfrenta diversas problemáticas sociais que carecem de apoio. De acordo com o II Plano Municipal de Integração de Imigrantes Amadora e dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras é o concelho com maior representatividade ao nível dos imigrantes (9% da população de 99 nacionalidades diferentes). Caso contabilizássemos pela naturalidade e os seus descendentes a percentagem seria muito superior (de acordo com os censos 2011, 31338 pessoas eram naturais de países estrangeiros). Importa referir que 65% dos imigrantes são oriundos de Africa e 15% são da América Latina, o que perfaz 80% dos imigrantes, destes, a maioria são mulheres (53%). A Câmara Municipal da Amadora encontra-se envolvida num projeto transnacional, da qual foi reconhecida pelas suas boas práticas na integração de imigrantes (a Associação Cultural Moinho da Juventude faz parte deste grupo de trabalho). Situação semelhante verifica-se na freguesia de Águas Livres, com inúmeros problemas sociais e de vulnerabilidade, sobretudo o desemprego, com maior incidência nas mulheres imigrantes, mas também o abandono escolar, a pobreza e exclusão social, o isolamento do público mais vulnerável, questões ao nível da habitação, saúde e diversas conotações negativas reforçadas pela comunicação social e sociedade civil no geral, sobretudo associadas aos bairros.
O Bairro do Alto da Cova da Moura, onde nos encontramos, está situado no concelho da Amadora, mais concretamente na Freguesia de Águas-Livres. Confunde-se na sua origem com a revolução do 25 de Abril, com o aparecimento dos primeiros retornados das ex-colónias portuguesas e com o fluxo de imigrantes de origem africana pertencentes aos países Africanos de Língua Oficial Portuguesa – PALOP.
A população do bairro estima-se que ronde os 6.000 habitantes, dos quais 80% são de origem africana ou seus descendentes, caracterizando-se por uma população bastante jovem, verificando-se que 50% da população corresponde à faixa etária abaixo dos 25 anos de idade.
As habilitações literárias da população são, em geral, baixas, com a taxa de analfabetismo na ordem dos 10% sobretudo da população mais idosa, possuindo a maioria apenas a escolaridade básica. Os originários dos países africanos são os que apresentam habilitações mais diminutas.
No entanto regista-se uma ligeira inversão no paradigma através de alguns jovens que apresentam níveis de estudos mais elevados, possuindo o ensino superior.
Parte dos equipamentos e serviços educacionais, de lazer e culturais existentes desenvolveram- se no bairro a partir da iniciativa da população.
Os diagnósticos do concelho e do bairro são bastante estigmatizados tendo repercussões no dia- a- dia dos moradores, rotulando os mesmos, pondo diversas vezes em causa os seus direitos civis e enquanto seres humanos, restringindo a igualdade no acesso a serviços, mercado de trabalho e atividades, o que origina um afastamento pela participação cívica bem como o elevado absentismo ao voto local e global. Trata-se de um território de acentuada vulnerabilidade socioeconómica, constatando-se situações severas de pobreza e exclusão social.
Associação Cultural Moinho da Juventude – ACMJ
A Associação Cultural Moinho da Juventude (ACMJ) é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) e Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD), que nasceu das conversações dos/as moradores/as à volta do chafariz onde, sobretudo as mulheres, iam buscar água. Foi ali que, a 1 de novembro de 1985, se iniciou a luta pela instalação do saneamento de água e esgotos para 900 moradores do Bairro do Alto da Cova da Moura. A isto somamos as ações das empregadas domésticas na luta por condições dignas de trabalho e pela criação de serviços e espaços para seus filhos e filhas. Esta convergência de interesses resultou inicialmente na organização de uma biblioteca infantojuvenil.
As referidas ações serviram de alicerces para o reconhecimento da ACMJ em 1987, passando esta a intervir nos níveis social, económico e cultural.
Estes passos tiveram resultados e impactos que perduram até hoje. Foi da luta traçada em conjunto que se criou oficialmente a Associação Cultural Moinho da Juventude primeiramente enquanto Associação e posteriormente IPSS no Diário da República.
Importa sublinhar que este projeto associativo nasceu “com” a população e não “para” a população, baseando-se numa perspetiva de Desenvolvimento Comunitário.
A sua ação tem como traves mestras o Empowerment, o Gender, a Interculturalidade, a Qualidade, Eficiência e Eficácia, a Cooperação, ser Solidário, a Persistência, a Alegria, o Meio Ambiente, a Criatividade, e o Respeitar as Convicções.
Umas das metodologias da ACMJ baseia-se na figura do técnico da experiência em pobreza e exclusão social, no trabalho em tandem, nos agentes de interligação e na aplicação da Teoria da Interligação.
A ACMJ desenvolve atividades a nível socioeducativo, sociocultural, socioprofissional, informação/apoio jurídico e social, envolvendo crianças, jovens, adultos e idosos. Tem por âmbito de ação o desenvolvimento comunitário, a promoção da relação de sinergias estimulando a partilha de competências e a responsabilidade pessoal e grupal, tendo como missão: “Um outro mundo é possível se a gente quiser”.
O seu público-alvo é a comunidade em geral e as pessoas em situação de desfavorecimento em particular, principalmente imigrantes e seus descendentes.
É reconhecida como IPSS e como pessoa coletiva de utilidade pública pelo Instituto de Segurança Social (ISS), como ONGD pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua Portuguesa | Instituo de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), é acreditada como entidade formadora pela Direcção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) e é equiparada a Associação Juvenil pelo Instituto Português da Juventude (IPDJ).
É promotor e parceiro em vários projetos no âmbito dos fundos da UE e do Estado Português. Faz parte da rede do Serviço Voluntário Europeu (SVE), realiza intercâmbios de jovens na Europa. Faz parte de várias redes Rede Europeia Anti Pobreza (REAPN), Rede Nacional das Associações Juvenis (RNAJ), Conselho Local de Ação Social Amadora (CLAS). Tem parcerias a diferentes níveis de trabalho (Instituições do Estado, Universidades e ONG nacionais e internacionais, Associações Empresariais, diversas Empresas entre outros organismos).
O trabalho realizado pela ACMJ, sobretudo no que respeita às questões da promoção dos direitos humanos, do reforço da cidadania e da participação social e cívica das pessoas e da igualdade de género, é reconhecida por instituições públicas e privadas.
A ACMJ tem tido um papel importante no apoio aos residentes e aos recém-chegados do bairro da Cova da Moura, da Amadora e de outros concelhos, sempre com o propósito de capacitar, para além de outras, as pessoas para uma cidadania participativa, o empowerment, a interculturalidade e a integração na sociedade. Em muitos casos a Associação é o primeiro contacto institucional dos imigrantes quer sejam ou não moradores do bairro.
A Associação Cultural Moinho da Juventude encontra-se situada numa posição privilegiada para assumir a responsabilidade na dinamização, promoção e sensibilização de ações e atividades direcionadas para a integração dos imigrantes e seus descendentes, sobretudo no concelho da Amadora, face a capacitação, o know-how adquirido em vários anos a trabalhar no terreno, a missão, os objetivos e a nossa rede de parceiros.
Os diversos problemas das pessoas que acompanhamos conduzem-nos a inovar as nossas estratégias de intervenção e a criação de novas repostas/serviços.